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sábado, 14 de janeiro de 2012

DIA DE SANTO AMARO , VARRER OS ARMÁRIOS - ILHA DA MADEIRA



No dia 15 de Janeiro, os madeirenses celebram o Santo Amaro e dedicam, esta altura, ao “varrer dos armários”
Trata-se de uma tradição popular que dita o fim das festas natalícias na Madeira, data em que as famílias desmontam os presépios e todas as decorações natalícias, partilhando e saboreando as últimas iguarias.O concelho de Santa Cruz assinala esta efeméride, em homenagem ao seu padroeiro, através da realização de uma animada festa popular madeirense – “arraial” – naquela cidade.



Além de ser a data em que se desmancham os presépios ou lapinhas, decorre um pouco por toda a ilha da Madeira, no dia dedicado a Santo Amaro, um peculiar uso também ele alegre e festivo: «o varrer dos armários»..


O ritual, recuperado em diversas localidades da ilha, varia, contudo, em relação à data da sua realização. Caso da Camacha, em que «o varrer dos armários», por tradição, tem lugar no dia de Santo Antão (17 de Janeiro), e de Câmara de Lobos, onde é celebrado no dia de São Sebastião (20 de Janeiro).



Consiste a função em se juntarem nestes dias pequenos grupos de homens e mulheres – actualmente mais os jovens ligados a ranchos folclóricos e as crianças das escolas –, a fim de percorrerem as casas dos familiares, vizinhos e amigos (à semelhança dos «janeireiros» ou dos «reiseiros»), para entoar cânticos alusivos, acompanhados por bombos e violas.



Munidos de uma vassourinha e de uma pá, para varrer os ditos, acontecendo que, por vezes, o fazem mesmo «para dar sorte», costumam (ou costumavam) levar uma saca destinada a arrecadar pequenas ofertas, geralmente bolos e doces.


Este costume serve, principalmente, para estreitar laços de boa vizinhança e de convívio, para se trocarem ditos e graças, sendo também motivo para se oferecer aos «vassoureiros» ou «varredores» (que em certas localidades continuam a apresentar-se mascarados), «a mesa posta com bolinhos e bebidas finas».Na Camacha, a festa de Santo Antão, também designado ali por Santo António de Abade, começa na «igreja antiga», festivamente enfeitada com camélias, açucenas e verdura, como o alegra-campo. Há missa e procissão, seguindo-se no adro da igreja o «ofertório» com produtos da terra e animais. Logo depois, no próprio adro, é a vez dos «tocares e dos cantares tradicionais do varrer dos armários».


Os grupos começam então as suas visitas pelas casas, fazendo parte do preceito os anfitriões mostrarem aos visitantes as lapinhas, que são «desmanchadas nas casas após o santo Antão», enquanto os «vassoureiros», em troca, deixam nas casas «varridas» além das pagelas do santo, a vassoura ou a pá como presente, com a data do ano em curso.«O varrer dos armários» é considerado como o prolongamento e encerramento das festas de Natal.


Canto tradicional dos «varredores» cantado no dia de Santo Amaro em diversas localidades da ilha da Madeira:

Vamos varrer a lapinha,
Deixai-nos entrar, Senhora,
Trazemos connosco a pá
E também uma vassoura.

Viemos de lá tão longe,
Do pé da terra dos alhos,
Trouxemos a vassourinha
Para varrer os armários.

Santo Amaro é bonito
É bonito não se o deixa
Para provarmos o vinho
Com cebolas de «escabecha».

Trazemos também connosco
Uma saca e uma pá.
Abra-nos a porta, Senhora,
Que queremos varrer já.


Fonte:“Festas e Tradições Portuguesas”, Vol.I